“Quanto mais se quer esconder, mais se mostra.”
Eu ainda me sinto desconfortável ao comprar jeans, mas, quando era jovem, mais vaidosa e bem mais gordinha, as dificuldades com roupas eram bem maiores. Era complicado se assumir.
A verdade é que eu também quis ser mais magra, bonita e fui bem machista, achava que mulher era peito, perna e bunda ou rabo, como dizem os portugueses.
E, como forma de auto protesto por não ter o corpo que desejava, eu sempre comprava jeans 40, mesmo vestindo 44/46, quase 48 (risos).
O resultado disso?!
Zíper arrebentado e minha avó dizendo:
“Toda gente percebe quando estamos com o zíper estragado, porque quanto mais se quer esconder, mais se mostra.”
Ui!
Era um tal de puxar a blusa para um lado, cruzar e descruzar as pernas, colocar a bolsa sobre as coxas, tirar a bolsa e colocar as mãos, inquieta com todos os supostos olhares e percepções. Sem contar que a gente fica olhando sem parar para a própria braguilha, tudo na tentativa de disfarçar.
Vala-me todos os deuses, não é mesmo?
Na verdade, tudo isso acontece em frações de segundo na cabeça do inseguro, que, consequentemente, é preocupado. Do sem-vergonha, que também é preocupado. Do corno e da corna, porque são desconfiados, e, consequentemente, também inseguros. É fácil perceber que a roda sempre volta ao ponto de partida, ininterruptamente, até que você entenda qual é o seu número. Mais conhecida como autoaceitação.
Pode espernear, mas, felizmente – e não para toda gente –, a mente humana não é capaz de ficar em paz quando precisa disfarçar algo. O corpo fala, mesmo quando a boca está fechada. No sistema neurológico da mente, isso é um alerta de segurança.
O pessoal que habita lá dentro reage como se estivesse em perigo, e então começamos a disfarçar na tentativa de nos proteger. Entretanto, existem coisas que fogem ao controle.
Você pode negar isso, mas não quero impor nada. Só quero provocar uma reflexão filosófica. A negação não muda o fato de que a mente humana não consegue ficar quieta quando estamos amedrontados e inseguros. Acabamos demonstrando justamente aquilo que queremos esconder, porque, mentalmente, estamos em apuros.
“O covarde sempre culpará o outro pelo seu insucesso e para o bem-resolvido, o outro não existe.”
E o perigo mesmo é quando o zíper arrebenta perto de quem sabe ler o olho de quem tem lombriga. O comportamento da safadeza fica irritantemente claro. Fica a dica!
É por isso que sai mais barato ser honesto.
Quem realmente o é, não se preocupa com botão solto, vampiro louco ou zíper arrebentado, simplesmente porque quem é reto sempre usará o número certo.
Tudo na vida pode dar certo se você estiver correto. E isso é matemático: tomando como premissa que a vida é um caos, então, a probabilidade de você se safar sendo honesto só aumenta, certo?
Podem dizer que faço drama, que banco a louca, que sou aérea, ou tentar me atingir com qualquer outro adjetivo, pejorativo ou não.
Pode xingar meus pais e até alterar o tom de voz, isso é fácil, meu caro. Difícil é não demonstrar o que está visível – aquilo que você quer esconder, tipo zíper arrebentado.
O seu zíper já estragou?
Pois é! O meu já, muitas vezes, e por isso criei a teoria do zíper. Testei minha teoria muitas vezes, faça o teste você também.
Ora, todos nós temos segredos, sentimentos, pessoas e fatos que gostaríamos de esconder. E quando percebemos que alguém notou aquilo que queríamos deixar oculto, ficamos nervosos, certo? Depende.
Uma coisa é estar com o zíper aberto em casa; outra é estar assim quando estamos fora. Vem cá, me conta um segredo pra ver se ainda tenho medo (risos).
Me conta quem é você quando está fora do seu ambiente particular?
Consegue ser acolhedor e gentil com sua esposa, filhos e entes queridos como é com a coleguinha de trabalho, ou acha que a mulher que merece ser destratada é a sua?
Você assume que pode estar “diferente” e comportado de maneira diferente ou fala coercitivamente, mas sem “acusar”, que são devaneios dela, são ilusões, loucuras de uma mulher machucada?
Você acolhe os fantasmas da sua companheira ou diz que não tem culpa dela ter sido vítima de violência doméstica?
Você insiste em gritar que não tem culpa dela ser frustrada e traída, ou responde com toda a paciência e com coraçãozinho, como faz com a coleguinha de trabalho?
Você gosta de esclarecer ou se irrita quando a esposa faz perguntas? Hum! Deixe-me ver se sei a resposta…
Aos berros, você diz que é trabalho, certo? Logo ela não entenderia, não é mesmo? Essa é a resposta de todos.
Ei, você… você mesmo… seu zíper está aberto (risos).
A irritação faz parte do temperamento daquele que esconde, inventa e precisa montar um personagem para conviver, paquerar, trabalhar e socializar.
A pessoa com esse desvio comportamental tem a convicção de que quem partilha a vida com ela tem que suportar o seu verdadeiro ser – e nem preciso citar os adjetivos, não é?. Aposto sem medo de errar que essa pessoa é o inverso do que demonstra no chat de “trabalho”.
O seu zíper já arrebentou na rua? Pense e tente responder a si e se depois quiser partilhar, estarei aqui.
Por ora, é melhor deixarmos passar os efeitos da lua alaranjada e permitir que o Sol continue a brilhar, mesmo que o inverno já esteja a caminho.
Gratidão por todo o sempre,
Dan Dronacharya.