“Alguém me avisa onde é o próximo apeadeiro, acho que me perdi entre os bardos, entretive-me com meus personagens e agora já não sei o roteiro.”
Vou encaminhá-la para o psiquiatra, disse a médica…
Lá vou eu, mais uma vez, seguir por outro caminho tortuoso em busca de respostas que insistem em não chegar. A reumatologista me disse que as dores vêm do sistema nervoso. A inflamação? Sem explicações. O calo ósseo no meu pescoço é resultado de anos de uma tensão que meu corpo parece não conseguir abandonar. Outros desgastes? “Normais”, dizem. Mantemos a morfina, os relaxantes, o anti-inflamatório… e, claro, aumentamos os “controladores emocionais”. Daqui a seis meses, novos exames para ver como vai essa batalha silenciosa entre eu e essa misteriosa doença dos nervos.
Dez anos. Já se passaram quase dez anos. E, ao longo desse tempo, fui guerreira e refém. Dez anos de confrontos, de vitórias pequenas e derrotas dolorosas, sempre envolta na sombra da incerteza. Dez anos lutando contra uma força que não consigo nomear. É como lutar com o vento — invisível, intangível, mas sempre presente. Ele se esgueira pelos cantos da minha vida, insinuando sua presença em cada dor, em cada rigidez, em cada cansaço sem explicação.
Enquanto isso, o fenômeno de Raynaud permanece. Ele aperta minhas mãos e pés como se estivesse determinado a não me soltar. Como se quisesse lembrar-me que, mesmo sem uma causa conhecida, ele ainda está aqui, sabotando minhas tentativas de normalidade. Ninguém sabe o porquê. Ninguém consegue entender. Mas eu o sinto. Está em mim. Um companheiro silencioso, uma presença incômoda que insiste em fazer parte da minha saga.
Ao longo desses anos, fui rodeada por uma verdadeira legião de especialistas, cada um trazendo sua visão e abordagens. Fisioterapeutas, reumatologistas, neurologistas, médicos de família, fisiatras, cardiologistas… Até a ginecologista se juntou ao grupo, graças à chegada da menopausa, como se eu não estivesse enfrentando o suficiente.
E agora, o psiquiatra. Mais uma peça nesse quebra-cabeça desconcertante. Vamos ver se ele ou ela conseguirá mapear essa jornada interna, essa “loucura” que, por vezes, parece ser a única explicação para o inexplicável. Será que minha mente está criando essa batalha? Ou talvez seja ela que, no cansaço do corpo, começou a se desgastar (delirar), a buscar saídas onde a ciência ainda não chegou?
No entanto, aqui estou. Ainda caminhando. Nem sempre com passos firmes, mas sempre avançando, mesmo sem saber ao certo para onde. Não sei se fui eu quem desenhou esse caminho ou se sou apenas uma passageira, levada por ele. Mas há algo, algo profundo e invisível, que me empurra.
Algo que me faz acreditar que, apesar de tudo, ainda vale a pena continuar. Que a saúde ainda pode me encontrar, e juntas sorrir e brindar a vida plena.
Eu continuo. Faço o que for preciso. Porque desejo, com toda a força que me resta, viver outra vez.
Quero muito, desejo intensamente uma vez mais, querer casar comigo mesma. Quero me apaixonar por mim, como antes, ou talvez de um jeito novo, mais profundo.
Quero sim, mais uma vez, ser autêntica e fiel aos meus próprios princípios e valores. Quero ser, de novo e todas as outras vezes a mesma Dan Dronacharya… So Ham.
Mas agora, parece-me que é melhor deixar o tempo da morte seguir seu curso. Há beleza na pausa, na espera e na solidão que acontece entre a queda e o renascimento para quem sabe que, quando o renascer finalmente acontecer, será ainda mais deslumbrante. Mais forte. Mais Mulher e Muito Mais eu.
Gratidão, eu sou.
Dan Dronacharya.